domingo, 9 de novembro de 2025

O Preço do elogio

A crítica. Ah, a crítica! Sempre a dicotomia fácil: construtiva versus destrutiva. A primeira, vestida de branco, trazendo a boa-nova do aprimoramento; a segunda, de preto, com a foice do puro desejo de demolição. A vida, porém, não se contenta com o maniqueísmo. O mundo, meu caro leitor, é feito de cinzas e de uma terrível paleta de tons de interesse. Existe, sim, aquela que chega com a brutalidade da sinceridade, uma marreta que desfaz o que parecia sólido, mas que, no fundo, almeja apenas o bem do alicerce. É a crítica que dói fundo, que destrói para agregar, para que sobre o essencial. É dura, mas limpa. Mas há a pior delas, o parasita da boa intenção, a mais nefasta das modalidades: a crítica com preço. Esta veste a carapuça da "sugestão valiosa", do "olhar de quem entende", do "ponto de melhoria crucial". Ela não chega para destruir nem para purificar; ela chega para negociar. É a voz sussurrante que aponta falhas precisas, defeitos pontuais, com ares de quem detém a fórmula da perfeição. O objetivo? Não o seu sucesso, mas a sua dependência. O cenário se arma com a precisão de um golpe. O crítico "construtivo" exibe a ferida, a fragilidade do que você criou com suor. O desespero da vítima é o seu lucro. A falha só será resolvida, veja bem, se ele for inserido financeiramente no problema. Contrate-o. Pague a consultoria. Dê-lhe a fatia do projeto. E o que acontece no instante em que o tal crítico é, enfim, "comprado"? O defeito colossal que ele apontava, a falha estrutural que exigia uma intervenção urgente, a ineficiência que custaria o futuro do empreendimento... tudo, de repente, desaparece. Como num passe de mágica cínica, a urgência se dissolve. A palavra que era navalha se torna silêncio. O problema não precisava de uma solução; precisava de um sócio disfarçado de consultor. O crítico some, levado pelo seu lucro garantido, abandonando a cena do crime (a sua crítica inicial) com os bolsos cheios.
É preciso ter olhos de lince para ver o cifrão por trás do louvor disfarçado de desaprovação. A crítica deve ser o espelho da verdade, não a moeda de troca do espertalhão. Que a crítica seja dura e sincera, ou honestamente destrutiva, mas que nunca, nunca, se vista de "construtiva" para apenas garantir o desaparecimento do crítico mediante pagamento. Essa é a verdadeira demolição: a da ética.

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