Uma das coisas que mais me atraem na política é que, assim como a vida, ela é uma eterna caixinha de surpresas, por isso, cabe fazer uma pequena reflexão a respeito dos números das urnas neste pleito.
Vamos juntos ler as entrelinhas
para compreender e diagnosticar o que aconteceu durante a montagem dos quatro
times que participaram desta corrida, para tentar entender o que realmente
aconteceu para que uma eleição que tinha tudo para ser a mais disputada das
últimas décadas virar uma goleada histórica.
Antes, porém, é bom deixar claro
que esta análise não se trata de um juízo de valor das pessoas dos candidatos,
mas apenas uma análise a respeito dos acontecimentos que levaram a campanha
deste ano aos surpreendentes números finais registrados nas urnas.
Começaremos pelo último colocado,
Jhonny Salvino, que apesar da votação simplória, 1.855 votos, menos que sua
segunda votação para vereador em 2020, temos de admitir que cumpriu claramente
com o combinado com a sua base.
Mesmo sabendo que as suas chances
de ser eleito, desde o início, eram completamente nulas, renunciou à sua
garantida reeleição como vereador e manteve a sua palavra, levando a sua
candidatura até o final.
Para mim, o ponto de inflexão de
sua campanha foi o seu inconsciente aceno à campanha do Querubim de Ribeirão
Preto.
Talvez nem mesmo ele ainda tenha se
dado conta deste aceno, mas com certeza vai se dar quando perceber que seu
rompante vai lhe render mais dores de cabeça do que alegrias no decorrer dos
próximos anos.
A próxima da lista é a eterna
candidata Maria Joaquina, que obteve 4.267 votos, ainda não foi desta vez, mas
quem sempre tenta, um dia chega lá.
Mesmo com todo o apoio partidário
que teve, com todos os pesos-pesados nacionais do seu novo partido estando
pessoalmente empenhados em sua eleição, ela obteve menos da metade dos votos de
2020.
O problema é que claramente ela não
se sente confortável sob a bandeira e os ideais de seu novo partido, isso pode
ser confirmado pelo racha que sua filiação ao PL causou em sua base de
sustentação.
Esta escolha fez com que grande
parte de seus apoiadores históricos preferisse, por conta da polarização
política, declarar publicamente apoio ao tucano envergonhado do que se manter
fiel à sua candidatura.
Um gesto aparentemente coerente,
mas que, na prática, nada mais é do que uma demonstração de imaturidade
política e ego hiper inflado, uma característica natural de seus antigos
aliados.
Estes seres iluminados preferiram
perder os dedos, se associando ao que há de pior na política local, do que
entregar os anéis, apoiando sua antiga aliada, abrindo momentaneamente mão de
suas aspirações pessoais para alcançarem juntos seus objetivos e, aí, sim, com
o poder nas mãos, implementarem as suas políticas.
Como já tinha dito em minha última análise, o problema das campanhas da Joaquina continuam sendo os mesmos. Apesar de ser uma incontestável liderança política, ela ainda não conseguiu montar uma equipe coesa e fiel ao seu redor. A cada eleição, seu núcleo duro varia e muda conforme as conveniências.
Se ela não consegue persuadir nem
mesmo seus “amigos” imagina os desconhecidos.
Frederico Guidone, 4.774 votos,
este conseguiu uma façanha inacreditável, de idealizador e fundador da
vitoriosa e próspera Republica dos Menudos, que tinha tudo para comandar os
destinos políticos da cidade por pelo menos 30 anos acabou se transformando na
cunha que rachou e afundou a sua própria criação.
O ex-tucano e, agora, Kassabista,
começou a perder a eleição quando da escolha do atual prefeito para a sua
sucessão.
O que deveria ser uma pacífica
passagem de bastão no grupo se transformou em uma imposição, que conseguiu
desagradar a todos, até mesmo o próprio escolhido.
Não é segredo para ninguém que a
escolha de outro nome que não fosse o do atual prefeito diminuiria
significativamente a influência do ex-prefeito na política doméstica jordanense
e para preservar a sua esfera de poder, resolveu impor a sua vontade.
Desgostosos com esta atitude, o
inevitável racha aconteceu na parte mais sensível de seu grupo, na base de
apoio de seus principais aliados.
A força motriz da República dos
Menudos foi comprometida no momento em que os colaboradores de seus aliados
resolveram manter o acordo original e passar o bastão para seu vice à revelia
da vontade do Big Boss.
Foi aí que o ciclo de poder e
principalmente da liderança da República dos Menudos foi atingida de morte.
E assim como chegou, o Ilustre
Desconhecido partiu, sem deixar rastro, muito menos saudades.
Enfim, chegamos aos avassaladores
15.653 votos do candidato eleito.
O que tinha tudo para ser uma
sofrida campanha de recuperação de seu prestígio perante o eleitorado acabou se
transformando em um avassalador apoio popular.
Demostrando grande habilidade na
escolha de seus aliados, conseguiu reverter um quadro de desconfiança depois de
suas últimas desistências em um unânime apoio não somente da população, mas de
praticamente todas as principais lideranças políticas da cidade.
Maduramente, soube manter a sua
campanha e principalmente seus apoiadores nos trilhos, não se
deixando levar pelas provocações e mantendo o foco somente em suas
propostas.
Acumulando mais votos que todos os
seus adversários juntos, incluindo os votos em branco e nulos, obteve uma
incontestável e histórica vitória.
Se hoje ele tem a satisfação de ter
um apoio nunca dado a outro, a partir do dia 1º de janeiro também terá a
responsabilidade de devolver à população pelo menos uma parte do respeito nele
depositado.
Sobre a nova composição da Câmara
de Vereadores, eu não iria escrever uma linha sequer, tendo em vista que a
minha opinião sobre ela continua a mesma: de onde menos se espera, daí é que
não sai nada mesmo.
Para mim, a casa que deveria ser do
povo não passa de uma mera carimbadora das vontades do gabinete do prefeito,
não tem força e relevância para absolutamente nada.
Mas, dois acontecimentos acabaram
por chamar a minha atenção e merecem um registro.
O primeiro é a composição
matemática que o destino preparou para as próximas sessões, esta divisão com
toda certeza será uma atração à parte.
As 13 cadeiras disponíveis no
plenário assim acabaram se dividindo: 7 cadeiras, ou a maioria simples, esta
nas mãos da coligação do prefeito eleito, 5 estão sob domínio da coligação
adversária e a última eu classificaria como independente, e em determinadas
votações poder se tornar o voto de minerva.
O segundo destaque foi a eleição da
Dra Izabel. Se ela conseguirá fazer a diferença, não se sabe, mas com certeza
somente a sua presença no plenário já será o suficiente para diminuir
significativamente a arrogância de seus pares.
Apesar da expectativa de grandes
mudanças a partir de 1º de janeiro de 2025, a única certeza que tenho hoje é
que, pelo menos, as manchetes e os miolos dos jornais locais serão durante
alguns meses mais criativos e divertidos.
Por fim, queria deixar registrado a
minha sincera admiração por um dos maiores estrategistas políticos de Campos do
Jordão, Sebastião Aparecido Cesar.
Gostem dele ou não, a verdade é que
ele sempre está um passo à frente de seus aliados e vários de seus
adversários.
E por mais uma eleição, o conhecido
Tião Cesar consegue um assento privilegiado na primeira fila da cerimônia de
posse do dia primeiro de janeiro.
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